quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Aparecido Antunes




Dizem que salvei a sua vida
Quando você teve um pensamento besta
Há quase 40 anos atrás...

Mas desta vez,
Quando recebi a notícia,
Nada pude fazer,
Não tenho tido mais contato com Deus.
Perdi a influência:
Perdemos você.

Não foi culpa minha.
Nem sua.
Besta é  a vida.


Pariquera-Açu, 28 de Setembro de 2012 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Não se surpreenda


Não se surpreenda...
Se algum dia desses eu aparecer a sua porta
E chamar pelo seu nome: saudade.

Não se surpreenda
Se as palavras não forem estranhas
Nem estranho o meu olhar.
O comportamento de criança, talvez.

Que eu vou te levar com a roupa do corpo,
Sem tempo de carregar lembrança,
Sem tempo de se despedir.
Muito menos um bilhete revelador
Você vai escrever.

Ah, mas que bobagem.
Não iremos tão longe assim,
Cruzaremos a avenida,
Os sete mares, o azul do céu.
Realizaremos nosso sonho,
Seremos felizes.

Não se surpreenda...
Se algum dia desses eu...

Pariquera-Açu, 2 de Julho de 2012 

Você foi tão amorosa hoje cedo


Você foi tão amorosa hoje cedo
Que tamanho amor – pensei –
Eu não mereço.

Tão amorosa nos gestos, nas palavras
E em todo o resto  que –  até estranhei
Eu não mereço.

Você foi tão amorosa hoje cedo
Que pela primeira vez em tanto tempo
A certeza  matou-me a dúvida do peito
E então, pensei
Eu não mereço.

Aconteceu hoje cedo
A felicidade


Pariquera-Açu, 25 de Setembro  de 2012


Poema de um amor que deixou de ser




Hoje eu  acordei no meio de um sonho inconcluso
E o dia todo me incomodou o fato
De eu não conseguir lembrar
Se o sonho era um sonho bom
Ou se o sonho era um  sonho ruim.

Sabe,
Desde que você foi embora é assim:
Tudo pela metade
Tudo sem sentido
Tudo inacabado
Igualzinho a esse sonho  meu
Que  acabou não acontecendo
E que – muito pelo contrário –
Por mais que pareça ser
Não foi pesadelo.
Foi sonho e nada mais.

Pariquera-Açu, 24 de Setembro de 2012


Eu respiro você




Será possível respirar alguém?
Eu respiro você
Ainda agora respirei os seus braços
E você não estava aqui.
Você estava na sala sentada com as crianças
Vendo os desenhos que eu trouxe lá de Sorocaba.

Será possível respirar alguém?
Eu respiro você.
Ontem eu acordei respirando os seus lábios
Eu estava deitado, ainda,
E o sol batia no meu  rosto .
Tentei  lembrar de algum sonho bom
Antes de pisar no planeta Terra.

Pariquera-Açu, 23 de Setembro de 2012   



Daquilo que já aprendi





Aprendi que se você quer ser poeta,
Escreva sobre coisas que qualquer pessoa
Em qualquer lugar do mundo
E em qualquer tempo
Possa sentir  cada uma das palavras que
Meticulosamente, cirurgicamente,
Foram colocadas  nos versos seus.

Aprendi, ainda, que não basta
Compreender o universo poético;
Há de se viver a poesia,
Há de se  passar pela experiência
De um grande amor e, se inevitável for,
De uma grande dor também.
Porque se assim não fosse
A vida seria em vão,
O poema vazio
E o poeta  nulo.

Aprendi, final e felizmente,
Que o bonde da felicidade não para  duas vezes
No  ponto chamado Esperança.
Que o meu lugar no bonde é meu
E o teu  lugar é ao meu lado.
Quem puder entender que entenda.

Pariquera-Açu, 25 de Agosto de 2012


Poema tirado de uma aula de literatura (Desde ontem sou feliz)




Desde ontem sou feliz...
Assim começa um conto que li tempos atrás
Quando eu não era  quem sou e você nem existia ainda.
Não pude sentir o impacto daquelas palavras, na ocasião.
Não aquele que sinto agora.
Imaginei, no entanto.
Quanta sorte a desse cara...
Se é que a sorte existe...
Só não sei explicar o mistério de Hamlet

Desde ontem sou feliz...
Essa frase se concretizou em mim,
Isto é, virou verdade.
Posso dizê-la como se minha fosse.
Foi naquele momento,
No exato momento  do beijo, do abraço.
Sim, agora eu  me lembro muito  bem:
Foi no mês de março.


Pariquera-Açu, 24 de Agosto de 2012